Na fronteira entre São Paulo e Minas Gerais, está Franca, uma cidade 50% paulista e 50% mineira, como os próprios moradores gostam de dizer.
A fala de tom acolhedor evidencia que vem do estado vizinho a mania de emendar umas palavras e engolir o final de outras.
Para Soelis Mendes, professora de linguística da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) o falar do francano tem indícios da influência do falar do Sul de Minas, que tem como característica o tom melódico, típico dos mineiros, e o ‘R’ retroflexo, o chamado ‘R’ caipira, típico dos paulistas.
“O falar do francano tem uma semelhança com o falar do Sul de Minas pelo traço melódico. Aqui na cidade, a gente vai encontrando esses falares e todos são nascidos aqui em Franca. Em alguns, a gente vê o traço melódico e o R retroflexo muito próximo dos nossos mineiros do Sul de Minas”.
Século 18
A explicação para esta mistura de sotaques pode estar no século 18, quando os primeiros mineiros chegaram à região de Franca, como conta Pedro Geraldo Saad Tosi, professor de história econômica da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Franca.
“Eles vieram do movimento de escasseamento da mineração, que ocupa o distrito do Serro em Minas Gerais, e que ocupa a região de Diamantina, e esse pessoal precisa de alimentos e precisa de espaço. Com o declínio da mineração, eles vão ocupando esses espaços em busca de regiões que pudessem ter minerais e aí vai encontrando populações nativas.”
Espontâneo e natural
A população de Franca tem orgulho do sotaque que carrega e isso pode ser visto pelas ruas da cidade. Os habitantes falam com gosto do jeitinho tão especial que levam uma conversa.
Nascida e criada em Franca, Gabriela Caetano Silva, de 27 anos, afirma que o falar surge de maneira espontânea e bem natural.
“O francano é mais mineiro do que paulista, se você for vir, tá mais na divisa de Minas do que de São Paulo. O povo fala ‘por que você fala ‘uai, oxe’, você não é mineira’. É um pé mais pra Minas do que pra São Paulo. E gosto muito de falar desse jeito. Minha mãe fala assim, minhas irmãs falam assim, é espontâneo falar desse jeito.
Tom melódico
Segundo publicação do portal G1 Ribeirão e Franca e da EPTV, a aposentada Eurípeda Maria Aparecida Cintra já carregou na fala não só o tom melódico e o ‘R’ caipira, como também as interjeições típicas dos mineiros.
“Os dizeres da minha infância geralmente eram ‘uai’, ‘sô’, ‘ocê’. Aprendia com minha mãe, tios, tias, mas hoje não falo mais tão assim.”
Para Soelis, é esse jeito tipicamente francano que coloca os moradores como únicos no mapa do Brasil e, por que não, do mundo.
“O falar de Franca é interessante, porque é característico da cultura de um lugar. Essa identificação cultural é muito importante porque, com a globalização, a tendência é ficar tudo igual e nós temos de nos diferenciar. Porque é a diferença que nos torna únicos e o falar é uma delas”.