Franca ostenta o título de Capital Nacional do Calçado, responsável por projetar o nome da cidade em todo país e também além das fronteiras do Brasil, para outros países. A fama foi conquistada graças à dedicação, resiliência e trabalho incessante de milhares de sapateiros que ajudaram – e ajudam – a tecer a história da indústria calçadista de Franca, que, estima-se, tem 200 anos.
Das mãos habilidosas e trabalho artesanal executado por homens e mulheres, jovens e idosos, nascem os “pisantes” que são enviados para o mundo inteiro. Nesta semana, comemorou-se o Dia do Sapateiro, em 25 de outubro. A data é uma homenagem aos irmãos e santos Crispim e Crispiniano, que, narra a história, pregavam o cristianismo pelas ruas durante o dia e à noite trabalhavam como sapateiros para garantir o seu sustento. Ambos são considerados padroeiros dos sapateiros.
Para celebrar a data, o Jornal Verdade publica essa Fotorreportagem, com retratos de sapateiros de Franca, que em uma das fábricas no tradicional reduto calçadista da cidade, o Distrito Industrial, transformam todos os dias – e de forma brilhante – peças de couro, linhas, borracha e outros adereços em desejados sapatos.
Hoje, 388 empresas de calçados – dados do Censo Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca)/ março a abril/2022 – e 17.579 trabalhadores formais trabalham no setor com previsão de produzir uma média de 22,4 milhões de pares em 2022, com faturamento estimado em R$ 2,8 bilhões.
A indústria coureiro-calçadista sofreu inúmeras transformações ao longo do tempo, mas conseguiu preservar a sua potência e é a fonte de sustento de milhares de sapateiros e suas famílias.
O empresário José Carlos Brigagão, presidente do Sindifranca, afirmou ao Verdade que a meta de todos do setor é retomar os patamares vividos em 2013. “Foi o ano que a cidade mais produziu, em média 40 milhões de pares e o registrou o maior número de trabalhadores da história da indústria calçadista francana, com mais de 30 mil trabalhadores. Dependemos das eleições, de quem vai assumir o comando do país e governo do Estado, e esperamos que a indústria pare de ser penalizada com a falta de políticas que a coloque em nível leal de concorrência”, afirmou ele, que anunciou um novo projeto de Recursos Humanos do Sindifranca para as empresas implantarem em busca da valorização e conquista de novo talentos.
Com a pandemia, muitos trabalhadores se viram obrigados a migrar de ramo e existe resistência em retornarem para as fábricas, que enfrentam escassez de mão de obra.
Wellington Paulo de Oliveira é presidente do Sindicato dos Sapateiros e tem uma trajetória com o segmento calçadista que antigamente era muito comum nas famílias francanas. Com seus 5, 6 anos de idade, ele visitava a fábrica onde o pai era sapateiro e de onde tirava o sustento da família. Aos 14, teve seu primeiro emprego como sapateiro, começou como auxiliar de montagem, mas logo se tornou costurador manual na forma. O pai dele se aposentou sapateiro, o irmão também chegou a trabalhar em fábrica. “Era uma profissão passada de geração para geração, isso era algo muito vivo nas famílias. Isso mudou o hoje, mas ainda somos um grande número, é a maior categoria na cidade, o calçado se mantém como um dos pilares da economia de Franca. O retorno financeiro do setor é importante, é o alicerce de muitas famílias também, não podemos nos esquecer disso”, comentou Wellington.
Para ele, o Dia do Sapateiro deve incentivar reflexões, especialmente sobre a necessidade de reconhecimento salarial e maior valorização da categoria. “Quem está no setor de calçados sabe que a qualidade que o sapateiro de Franca exerce, que dá ao produto fabricado na cidade, não existe em outro lugar. A mão de obra francana é altamente qualificada”.
Como outros segmentos, o coureiro-calçadista precisa se reinventar, ressurgir e regenerar sempre e essa sobrevivência só é possível graças aos sapateiros e sapateiras, grandes protagonistas da história da Capital do Calçado!